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Mostrando postagens de 2011

Meu guardião

Não sei exatamente como a proximidade se deu, como nesses encontros em que nos deparamos de repente dentro e, fazendo tão parte de nós, não vemos início - nem fim, apenas existem. Eduardo existe em mim hoje, em um espaçoso e confortável lugar, onde, quando ele se ausenta, me refugio com a lembrança de sabê-lo ali e sinto uma gratidão profunda. Eduardo é uma das pessoas mais bonitas que eu conheço. É um rapaz que atrai olhares e faz bem aos olhos. Seu queixo imponente de homem abriga a barba pouca que cresceu meio sem rumo, pouco convincente, não negando a ele seu ar de menino. Olhos, nariz e dentes formam uma coisa harmoniosa. Não é alto e nem baixo demais; não tem obsessão por arquitetar músculos, o que muito me agrada, por assim não estragar a composição natural com um jeito que poderia soar falso. Porque Eduardo tem a beleza das coisas humanas, que simplesmente são. Ele foge das convenções sociais, onde a beleza se esforça para ser bela. E isso diz do que é bonito por dentro

A visita do anjo mau

De todas as coisas incompreensíveis que existem, a morte é a maior delas. É natural, acontece com tudo que um dia nasce, mas não deixa de abalar a ordem da vida de uma maneira inadmissível. A morte é um absurdo. E é por isso que vivemos em uma falsa eternidade: se formos pensar todo o tempo que essa senhora impiedosa sempre chega e que, mais cedo ou mais tarde, iremos perder alguém que amamos, nós paramos, enlouquecemos, ou seja lá o que for. Mas então ela chega, absurdamente . Em todos os dias de nossa vida estamos morando dentro de um falso lugar eterno para que, em um desses dias como tantos outros, sejamos obrigados a encarar que esse lugar não existe. A vida é muito, a vida é bem mais que um amontoado de órgãos que, juntos, fazem algum sentido. Então chega a morte e transforma a vida nisso. Como aceitar que ela possa caber dentro de uma caixa? Perder alguém é uma insuportável transgressão. A vida são os discos preferidos, o jeito de arrastar os chinelos, o modo como se coloc

Vírgula

Ando vivendo uma vida que, de tão minha, acaba não sendo. Ando? Sinto-me parada. Estática. Como quem envelheceu anos demais para corpo de menos e se petrificou. Marcadores de página eternos tomam conta dos livros, as músicas são as mesmas e voltam para o mesmo lugar. Estou sentindo o gosto da vida como quem a está mascando por anos. Tenho falhado na profissão que elegi para esses novos tempos, a que eu chamo de “jardineira de mim”... cuidando de pensamentos e sentimentos que ousam brotar aqui, crescer ali para longe. Difícil mesmo é quando me descuido demais e não os corto pela raiz: tenho de apará-los depois de grandes. Enormes. Muito maiores do que qualquer esforço que eu faça. Desisti de fazer esforço. Quando há aqueles que juram serem flores, é de dar dó ter que ensinar-lhes que eles são apenas erva daninha. Ando deixando-os ser o que quiserem. E estou cheia de ervas-daninha. Acho que não sei me cuidar. Imagino-me como sendo uma daquelas estátuas esquecidas em uma praça também esq

Noite, vida e outros pensamentos

É semifinal do campeonato. O atacante recebe a bola no sufoco, passa-a por cima de um, dribla outro, chuta com categoria, ali, bem no cantinho, o goleiro tenta, mas, quando se dá conta, já era, não há o que ser feito, suas mãos agarram o nada e vê o que todos também acompanham, sim, é, é ele: o GOL (necessário respeitar as maiúsculas). A torcida se levanta, estufa o peito, mas, antes mesmo da explosão de gritos, um apito para tudo: os olhos falíveis do juiz veem um impedimento. Não havia. Com o resultado, é o outro time que vai para a final. Tudo muda numa rápida fração de segundo. E se o juiz tivesse acertado, estaria o time classificado? E se o time fosse classificado, seria ele a levar a taça? Deve haver um mundo aonde, nesse momento, os gritos que não puderam se soltar do peito ecoam "É campeão!". Esse mundo é muito pequeno para caberem todos os outros. E é muito grande também. Deve haver um lugar onde habitam todos os "se's" e "não's", para o
Hoje, só ele me traduz. Mario Quintana, em seu tiro certeiro "Esperança": Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano Vive uma louca chamada Esperança E ela pensa que quando todas as sirenas Todas as buzinas Todos os reco-recos tocarem Atira-se E — ó delicioso vôo! Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada, Outra vez criança... E em torno dela indagará o povo: — Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes? E ela lhes dirá (É preciso dizer-lhes tudo de novo!) Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam: — O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...