Pular para o conteúdo principal

Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2015

2ª carta para a minha avó (ou pedaços de vida e morte)

   O que faz de um sorriso um sorriso não é a simetria da dentição ou sua branquetude escovada. É algo além dele próprio. Iluminura que a vida deixa de rastro num rosto. Isto aprendi com a senhora, vó, com seus olhos gargalhantes. É muito mais difícil sorrir sem dentes porque aí não dá pra dissimular muita coisa. A transparência o revela em sua essência. Pois acontece que toda santa vez que atendo uma paciente banguela, vó, a saudade me abraça. Saudade tem braços delicados mas aperta com valentia. Moça feita de passado mas que tem pacto é com o presente. Se a saudade falasse de coisas idas, ao olhar para aquelas senhoras hoje eu não reconheceria o seu sorriso. Nada de significativo, de fato, se tornaria nosso. Triste, não é? Ainda bem que ela existe!     Pois a saudade tem me contado algumas coisas. Uma delas é que a senhora fez um grandecíssimo trabalho. Eu não sei o que você colocou no leite dos seus filhos, naquela pobreza desgentil da roça, que nutriu e fez crescer tanto o cora