De todas as coisas incompreensíveis que existem, a morte é a maior delas. É natural, acontece com tudo que um dia nasce, mas não deixa de abalar a ordem da vida de uma maneira inadmissível. A morte é um absurdo. E é por isso que vivemos em uma falsa eternidade: se formos pensar todo o tempo que essa senhora impiedosa sempre chega e que, mais cedo ou mais tarde, iremos perder alguém que amamos, nós paramos, enlouquecemos, ou seja lá o que for. Mas então ela chega, absurdamente . Em todos os dias de nossa vida estamos morando dentro de um falso lugar eterno para que, em um desses dias como tantos outros, sejamos obrigados a encarar que esse lugar não existe. A vida é muito, a vida é bem mais que um amontoado de órgãos que, juntos, fazem algum sentido. Então chega a morte e transforma a vida nisso. Como aceitar que ela possa caber dentro de uma caixa? Perder alguém é uma insuportável transgressão. A vida são os discos preferidos, o jeito de arrastar os chinelos, o modo como se coloc