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Mostrando postagens de novembro, 2014

Carta para minha vó (ou pedaços de vida e morte)

Ah, vó! Eu queria colocar minha história em linha reta, num desenrolar bonito e colorido. Mas ela fica num emaranhado do qual só apanho alguns pedaços. Na verdade os pedaços é que me apanham. Divinópolis virou um precipitado de lembranças grossas, que se acumulam em nuvem, carregam o céu. Quando venho aqui, não sei dizer se quem chove sou eu ou a cidade. A Morte, maiúscula, te levou daqui, e ela, que desabou meu edifício com tudo dentro, serviu para tornar visível a morte, minúscula e imperceptível a olhos menos atentos, que exerce seu ofício de cupim e corrói as paredes com paciência. Mas meus olhos sempre foram atentos. Desde antes de a senhora partir, Divinópolis me é nuvem carregada, porque aqui eu quase consigo tocar com a mão as mudanças que o tempo traz. Sempre temi a Morte maiúscula que a morte minúscula anunciava: o cachorro ficando cego, cada vez menos galinhas no quintal, o vizinho que era criança (eu juro que era!) tendo filho, a careca mais vistosa na cabeça do meu pai. N